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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A fúria da beleza.






Estupidamente bela 

a beleza dessa “maria-sem-vergonha” 
soca meu peito esta manhã!
Estupendamente funda, 
a beleza, quando é linda demais, 
dá uma imagem feita só de sensações, 
de modo que, apesar de não se ter a consciência desse todo, naquele instante não nos falta nada.
É um pá, um tapa, um golpe, 
um bote que nos paralisa, organiza,
dispersa, conecta e completa!
Estonteantemente linda 
a beleza doeu profundo no peito essa manhã.
Doeu tanto que eu dei de chorar.
Por causa de uma flor comum e misteriosa do caminho. 
Uma delicada flor ordinária, 
brotada da trivialidade do mato, 
nascida do varejo da natureza, 
me deu espanto!
Me tirou a roupa, o rumo, o prumo 
e me pôs a mesa... 
é a porrada da beleza!
Eu dei de chorar de uma alegria funda, 
quase tristeza.
Acontece às vezes e não avisa.
A coisa estarrece e abre-se um portal. 
É uma dobradura do real, uma dimensão dele, uma mágica à queima-roupa
sem truque nenhum. E é real.
Doeu a flor em mim tanto e com tanta força que eu dei de soluçar!
O esplendor do que vi era pancada, era baque e era bonito demais!
Penso, às vezes, que vivo pra esse momento 
indefinível, sagrado, material, cósmico, 
quase molecular. 
Posto que é mistério, 
descrevê-lo exato perambula ermo dentro da palavra impronunciável.
Sei que é desta flechada de luz 
que nasce o acontecimento poético. 
Poesia é quando a iluminação zureta, 
bela e furiosa desse espanto 
se transforma em palavra!
A florzinha distraída, 
existindo singela na rua paralelepípeda esta manhã,
doeu profundo como se passasse do ponto.
Como aquele ponto do gozo,
como aquele ápice do prazer,
que a gente pensa que vai até morrer! 
Como aquele máximo indivisível,
que de tão bom é bom de doer,
aquele momento em que a gente pede pára
querendo e não podendo mais querer,
porque mais do que aquilo
não se agüenta mais... 
sabe como é ?
Violenta, às vezes, de tão bela, a beleza é!

Elisa Lucinda

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